segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

REFLEXÕES e PERSPECTIVAS

Bom, primeiro gostaríamos de registrar que 2014 (principalmente como reflexo do que ocorreu em 2013) foi um ano bastante previsível no que tange ao embate entre as forças que buscam transformações e aquelas que buscam solidificar o atual estado das coisas como estão na educação pública estadual.

Parte desse cenário pode ser atribuída à opção do professorado em permanecer parte em cima do muro (leia-se apoiando o status quo) e parte pulverizada nas diversas formas de oposição – inclusive durante o processo eleitoral.

Resultado, perdemos dos dois lados; pois não desenvolvemos força de pressão para abrir linhas de negociação junto à situação, nem tivemos coesão para sermos notados como uma força política a ser considerada e ouvida.

Não cabe aqui ficar tecendo lamentos, mas ainda bem que o fatídico (2014) está encerrando seu expediente.

Seguindo com a nossa prosa, o ano assistiu ao enorme salto quantitativo (mas não qualitativo) nos índices da educação da rede pública estadual no ranking nacional, chegamos ao 4º lugar (Noossaaa !!!); ao enrijecimento das sanções contra professores e a ampliação dos ataques ao direito de representação - enquanto trabalhadores – com as tentativas de introjetar nos docentes dúvidas quanto à legitimidade da atuação do SEPE. Por último, durante o processo eleitoral as forças da situação consideraram o professorado como um “cachorro morto”, enquanto para os outros atores políticos passamos a ser visto como uma incógnita.


Em outras palavras, no período de oito anos (para ser mais justo, quatro anos) o Estado do Rio de Janeiro saiu, em 2009, da penúltima posição do IDEB (26º) – fazendo uma pequena escala na 15º posição em 2011 - para figurar entre as cinco primeiras posições nacionais (4º) em 2013. Para muitos, o que ocorreu foi uma grande demonstração da competência do sistema público estadual de educação. Para outros tantos, a ausência de uma explicação crível para tamanho avanço em tão curto espaço de tempo e sem que medidas fundamentais estivessem em pleno vigor sugerem a intervenção de forças sobrenaturais (milagre?!?!?).

Ficamos com ambas as posições, acreditamos que houve uma grande demonstração da competência em “trabalhar” com números aliada a uma intervenção de forças além da compreensão comum (já que foi um salto muuiitooo significativo sem que nas salas de aulas – durante esse período -  tivesse sido notadas a aquisição de medidas básicas que favorecessem a relação ensino X aprendizagem [exemplo marcante a superlotação das salas]). Acrescentamos, ainda, outro fator para explicar tamanho salto, alguns dos outros Estados da federação não aumentaram seus índices. Isto é permaneceram congelados nas suas posições “idebísticas” anteriores.

KIT  AVANÇO NO IDEB.
Finalizando essa prosa (sobre o “avanço” no ranking nacional) dou razão à lógica estabelecida por um colega da região dos lagos que registrou o seguinte: Já que avançamos tanto no ranking nacional, a rede toda está de parabéns e diante da política meritocrática (que premia o rendimento) estabelecida pela GIDE seria de bom tom que TODOS os professores da rede recebessem premiação pelo descomunal avanço conseguido no ranking do IDEB.

É por essas e outras que o happy hour faz bem a alma. Rsrsrsrsrs...

Tomemos outro assunto, as sanções, que foram a prova mais clara do quanto o status quo não entende o que é direito de greve, já que judicializou; ameaçou; suspendeu pagamentos; promoveu perseguições e fez “cair” a origem de muitos docentes que simplesmente exerciam o direito de greve. Surge então a pergunta que não quer calar, como formar cidadãos em uma rede escolar que tolhe o direito do professor de exercer sua cidadania?

A ação deliberada da SEEDUC/RJ teve duplo objetivo : punição e o estabelecimento de um novo patamar nas relações entre a gestão da rede e os docentes que insistem em exercer um direito, o da greve. A SEEDUC/RJ pesou a mão, pois, sabe que o professor “amarra” os seus dias e horários para todo um ano letivo, e que a desconfiguração dessa grade de horários causa transtornos incomensuráveis na vida do profissional.

O que aconteceu pode temperar com fel a nova relação.

E por falar (escrever) sobre atitudes pouco dignas, a SEEDUC/RJ engendrou uma trama na qual buscou outorgar uma nova representação de classe no melhor estilo estadonovista (vai ver inspirados pelos sessenta anos de Vargas morto), inclusive com viés psicológico (tipicamente fascista [eu sei o que é melhor para os docentes]).

No que tange ao resultado das eleições, ele trouxe uma falsa ideia de chancela do professorado ao atual rumo da gestão da educação publica estadual. Mas as coisas não são bem assim não. Na verdade, o resultado só mostra o quanto a peleja vai ser mais encarniçada para os professores que ainda insistem em uma educação publica estadual de qualidade (com profissionais dignamente remunerados e reconhecidos e uma rede que priorize muito mais o qualitativo que o quantitativo e o processo que necessariamente o resultado).

Finalizando.

Esforço para honrar aqueles que nos inspiraram.
Já faz um tempo que a SEEDUC/RJ aprendeu que as contentas com o professorado é uma luta de conquista de corações e mentes. Por isso, ela passou a tomar a iniciativa na mídia propagandeando medidas de “valorização do professor” logo no início do ano (tem sido uma constante desde 2011). Esperem os matutinos do início de 2015 para confirmar.

Ainda na luta pelos corações e mentes, a SEEDUC/RJ aprendeu a judicializar todas as questões referentes às justas reivindicações dos docentes, tornando um direito em ato criminoso e irresponsável aos olhos da população e dos tribunais. Tudo isso sendo agravado pela operacionalização da mídia fabricando um falso consenso contra os docentes junto à opinião pública.

Por último, a SEEDUC/RJ buscou solapar a legitimidade da luta por melhorias na educação pública estadual no seio do próprio professorado ao antecipar-se as paralisações (liberando o famigerado auxílio cultura para desarticular o movimento) e/ou fabricando pretensos dissensos na classe quanto à legitimidade da representação docente enquanto categoria de trabalhadores (SEPE X UPPES+SEEDUC/RJ).

Por isso, meus amigos, estejamos atentos à síndrome da valorização do resultado quantitativo  (pensamento único; engessamento pedagógico; desconsideração com quesitos básicos da relação ensino-aprendizagem e do fazer docente) em detrimento daquelas questões básicas e fundamentais para a educação e a escola pública estadual.
Conforme sempre colocamos, bom seria se cada escola (e com isso cada metro) competisse contra si mesma; pois cada avanço conseguido posteriormente refletiria mais o qualitativo que o quantitativo, e muito mais o processo que o resultado em si. Eliminaria os riscos de manipulações ? Não. Mas seria muito mais crível (tudo isso sem a necessidade de medidas meritocráticas).

Mas isso significaria autonomia pedagógica; gestão democrática da escola e mudanças significativas no cotidiano escolar, ideias que vão de encontro ao modelo atualmente estabelecido de condução da educação pública estadual. Ou seja, a educação pensada como política de governo e não como política de Estado.

Além disso, para acirrar/ encarniçar e endurecer ainda mais a luta dos professores por uma educação pública de qualidade em 2015, a SEEDUC/RJ contará com um aliado de peso; pois teremos como ministro da educação aquele mesmo senhor que – quando era governador – asseverou como “grande conhecedor” da luta por uma educação pública de qualidade: "Quem quiser dar aula faça isso por gosto, e não pelo salário. Se quiser ganhar melhor peçademissão e vá para o ensino privado."

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