Bom, primeiro gostaríamos de
registrar que 2014 (principalmente como reflexo do que ocorreu em 2013) foi um
ano bastante previsível no que tange ao embate entre as forças que buscam
transformações e aquelas que buscam solidificar o atual estado das coisas como
estão na educação pública estadual.
Parte desse cenário pode ser
atribuída à opção do professorado em permanecer parte em cima do muro (leia-se
apoiando o status quo) e parte pulverizada nas diversas formas de oposição –
inclusive durante o processo eleitoral.
Resultado, perdemos dos dois
lados; pois não desenvolvemos força de pressão para abrir linhas de negociação
junto à situação, nem tivemos coesão para sermos notados como uma força
política a ser considerada e ouvida.
Não cabe aqui ficar tecendo
lamentos, mas ainda bem que o fatídico (2014) está encerrando seu expediente.
Seguindo com a nossa prosa, o ano
assistiu ao enorme salto quantitativo (mas não qualitativo)
nos índices da educação da rede pública estadual no ranking nacional, chegamos
ao 4º lugar (Noossaaa !!!); ao enrijecimento das sanções contra
professores e a ampliação dos
ataques ao direito de representação - enquanto trabalhadores – com as
tentativas de introjetar nos docentes dúvidas quanto à legitimidade da atuação
do SEPE. Por último, durante o processo eleitoral as forças da situação
consideraram o professorado como um “cachorro morto”, enquanto para os
outros atores políticos passamos a ser visto como uma incógnita.
Em outras palavras, no período de
oito anos (para ser mais justo, quatro anos) o Estado do Rio de Janeiro saiu,
em 2009, da penúltima posição do IDEB (26º) – fazendo uma pequena escala na 15º
posição em 2011 - para figurar entre as cinco primeiras posições nacionais (4º)
em 2013. Para muitos, o que ocorreu foi uma grande demonstração da competência
do sistema público estadual de educação. Para outros tantos, a ausência de uma
explicação crível para tamanho avanço em tão curto espaço de tempo e sem que
medidas fundamentais estivessem em pleno vigor sugerem a intervenção de forças
sobrenaturais (milagre?!?!?).
Ficamos com ambas as posições,
acreditamos que houve uma grande demonstração da competência em “trabalhar” com
números aliada a uma intervenção de forças além da compreensão comum (já que
foi um salto muuiitooo significativo sem que nas salas de aulas – durante esse
período - tivesse sido notadas a
aquisição de medidas básicas que favorecessem a relação ensino X aprendizagem
[exemplo marcante a superlotação das salas]). Acrescentamos, ainda, outro fator
para explicar tamanho salto, alguns dos outros Estados da federação não
aumentaram seus índices. Isto é permaneceram congelados nas suas posições
“idebísticas” anteriores.
KIT AVANÇO NO IDEB. |
Finalizando essa prosa (sobre o
“avanço” no ranking nacional) dou razão à lógica estabelecida por um colega da
região dos lagos que registrou o seguinte: Já que avançamos tanto no ranking
nacional, a rede toda está de parabéns e diante da política meritocrática (que
premia o rendimento) estabelecida pela GIDE seria de bom tom que TODOS os
professores da rede recebessem premiação pelo descomunal avanço conseguido no
ranking do IDEB.
É por essas e outras que o happy
hour faz bem a alma. Rsrsrsrsrs...
Tomemos outro assunto, as sanções,
que foram a prova mais clara do quanto o status quo não entende o que é direito
de greve, já que judicializou; ameaçou; suspendeu pagamentos; promoveu
perseguições e fez “cair” a origem de muitos docentes que simplesmente exerciam
o direito de greve. Surge então a pergunta que não quer calar, como formar
cidadãos em uma rede escolar que tolhe o direito do professor de exercer sua
cidadania?
A ação deliberada da SEEDUC/RJ
teve duplo objetivo : punição e o estabelecimento de um novo patamar nas
relações entre a gestão da rede e os docentes que insistem em exercer um
direito, o da greve. A SEEDUC/RJ pesou a mão, pois, sabe que o professor
“amarra” os seus dias e horários para todo um ano letivo, e que a
desconfiguração dessa grade de horários causa transtornos incomensuráveis na
vida do profissional.
O que aconteceu pode temperar com
fel a nova relação.
E por falar (escrever) sobre atitudes
pouco dignas, a SEEDUC/RJ engendrou uma trama na qual buscou outorgar uma nova
representação de classe no melhor estilo estadonovista (vai ver inspirados pelos
sessenta anos de Vargas morto), inclusive com viés psicológico (tipicamente
fascista [eu sei o que é melhor para os docentes]).
No que tange ao resultado das
eleições, ele trouxe uma falsa ideia de chancela do professorado ao atual rumo
da gestão da educação publica estadual. Mas as coisas não são bem assim não. Na
verdade, o resultado só mostra o quanto a peleja vai ser mais encarniçada para
os professores que ainda insistem em uma educação publica estadual de qualidade
(com profissionais dignamente remunerados e reconhecidos e uma rede que
priorize muito mais o qualitativo que o quantitativo e o processo que
necessariamente o resultado).
Finalizando.
Esforço para honrar aqueles que nos inspiraram. |
Ainda na luta pelos corações e
mentes, a SEEDUC/RJ aprendeu a judicializar todas as questões referentes às
justas reivindicações dos docentes, tornando um direito em ato criminoso e
irresponsável aos olhos da população e dos tribunais. Tudo isso sendo agravado
pela operacionalização da mídia fabricando um falso consenso contra os docentes
junto à opinião pública.
Por último, a SEEDUC/RJ buscou
solapar a legitimidade da luta por melhorias na educação pública estadual no
seio do próprio professorado ao antecipar-se as paralisações (liberando o
famigerado auxílio cultura para desarticular o movimento) e/ou fabricando
pretensos dissensos na classe quanto à legitimidade da representação docente
enquanto categoria de trabalhadores (SEPE X UPPES+SEEDUC/RJ).
Por isso, meus amigos, estejamos
atentos à síndrome da valorização do resultado quantitativo (pensamento único; engessamento pedagógico;
desconsideração com quesitos básicos da relação ensino-aprendizagem e do fazer
docente) em detrimento daquelas questões básicas e fundamentais para a educação
e a escola pública estadual.
Conforme sempre colocamos, bom
seria se cada escola (e com isso cada metro) competisse contra si mesma; pois
cada avanço conseguido posteriormente refletiria mais o qualitativo que o
quantitativo, e muito mais o processo que o resultado em si. Eliminaria os riscos de
manipulações ? Não. Mas seria muito mais crível (tudo isso sem a necessidade de
medidas meritocráticas).
Mas isso significaria autonomia
pedagógica; gestão democrática da escola e mudanças significativas no cotidiano
escolar, ideias que vão de encontro ao modelo atualmente estabelecido de
condução da educação pública estadual. Ou seja, a educação pensada como
política de governo e não como política de Estado.
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