quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

IdenTidaDe DoCenTe

MaNiFeStO ConCisO Da DoCêNciA

Nosso ofício é também uma arte. Somos artistas, pois a inspiração é uma das fontes do fazer docente. Assim como aqueles (os que “dão vida” a uma obra usando da inspiração, dispondo de matéria bruta, da concepção de como fazer, das ferramentas e por fim experimentam o êxtase da realização) trabalhamos em prol de uma obra que gere satisfação, uma satisfação que vá além do famoso "Parla !" de Michelangelo. A nossa satisfação tem viés de altruísmo porque se realiza no sucesso do outro (o aluno).

No entanto, quando é colocado que somos também artistas não significa que sejamos portadores de um dom especial, ou ainda, que tenhamos uma essência transcendental miraculosa e que flutuemos no éter como seres fabulosos de luz e cores. Tampouco fazemos parte de uma minoria, de uma elite, iluminada que acredita ser detentora das soluções e redentora da sociedade; ou ainda, que na condição de elite deva usufruir de regalias e privilégios especiais em detrimento do restante da sociedade. Definitivamente nós não somos o suprassumo de coisa alguma.

Na nossa identidade de artista está a fusão do menestrel, do contador de histórias, do poeta, do escultor, do ator, do cantor, do pintor, do pesquisador, do escritor, do cientista, do cartunista e de todo aquele que busca estimular o gosto pela cultura e o pelo conhecimento.

E o que somos ?

Somos denominados professores por grande parte da sociedade, de educadores pela mídia, de docentes por nossos pares e de mestres pelos admiradores. Entretanto, renegamos o rótulo de ensinadores e outros mais criados para deslocar ou minimizar o papel do docente no processo de ensino-aprendizagem; pois estes são herdeiros dos sofistas da Grécia antiga, que viam na educação uma oportunidade de auferir vantagens e fazer negócio; mas não educar.

Diante disso, veementemente rejeitamos qualquer tipo de enlace ou ligação do nosso ofício com o sofismo com a qual nos querem rotular.

Também, nossa atuação não se resume ao espaço da escola. Portanto se faz necessário que continuemos a produzir e divulgar apreciações, opiniões e análises baseadas na realidade da educação, valorizando os acertos; mas principalmente apontando e alertando para as medidas de cunho inócuo cujo interesse corre à margem das reais necessidades da educação pública. É esse o papel do intelectual, e ser intelectual é um outro aspecto da nossa identidade docente.

Assim, exercitemos a nossa intelectualidade – que pressupõe isenção, racionalismo, leitura crítica da realidade e compromisso com o real, o legal e não com o conveniente (ainda mais nos tempos atuais onde há forte cooptação dos corações e mentes por especialistas em educação que pululam por toda mídia bombardeando o cotidiano da sociedade com opiniões na imensa maioria das vezes desconectadas dos reais problemas da educação e tornando a discussão - que deveria ser politizada - partidarizada, empobrecida e tendenciosa. Ou ainda, quando não procuram dourar a pílula da crise na educação pública emitem opiniões muito mais centradas em exercitar o autoelogio e buscam atenuar as responsabilidades do poder público).

Então, diante de um cenário tão pouco promissor – distópico até - é necessário marcar qual é a nossa posição diante daquilo que está posto.

Marcando posição e a deixando em total evidência declaremos que Somos da Contracultura !

Somos da contracultura porque não compactuamos com aquilo que querem impor às gerações futuras e a atual de que elas não podem usufruir de uma educação pública de qualidade, e por consequência, estão destinadas a ocupar cargos menores na sociedade.

Somos da contracultura porque entendemos que a ganância individual não pode substituir a realização pessoal; nem que a competição desleal e traumática deva prevalecer sobre disputa ética e em igualdade de condições e oportunidade; ou ainda que a vantagem individual sobrepuje a necessidade do coletivo.

Somos da contracultura porque não abrimos mão da nossa condição de formadores de pessoas que buscarão pensar criticamente a sua realidade, e não de simples exércitos de mão de obra ou massa de manobra da politicagem.

Somos da contracultura porque não buscamos o conforto das conveniências e do silêncio vergonhoso que provoca comodismo e covardia.

Somos da contracultura porque acreditamos que as pessoas valem mais que números em estatísticas falaciosas e tendenciosas, que valorizam as ações paliativas tão em voga na gestão da educação pública.

Somos da contracultura porque entendemos que educação não é um negócio; mas sim um assunto de Estado por ser interesse de toda sociedade.

Somos da contracultura porque nos tempos atuais a função social do docente tem sido inferiorizada, menosprezada e obscurecida na sua importância devido a emergência de novas "atribuições" e "funções" na sala de aula e no processo de ensino-aprendizagem, que favorecem muito mais ao sofismo do que a educação. 
Pois enquanto o ensino sofista apreende o aluno por ver nele um clientea verdadeira educação liberta porque enxerga no aluno um cidadão e não meramente um consumidor.

Somos da contracultura porque entendemos que a formação do docente pressupõe, também, a formação de um intelectual, e como intelectuais de nosso tempo é dever nosso denunciar tudo aquilo que pretender limitar e eliminar direitos conquistados nas lutas (banhadas por suor, lágrimas e até mesmo por sangue) das gerações passadas em benefício da atual e das futuras gerações, sem contudo estarmos fechados ao novo ou ao aperfeiçoamento.
Para isso devemos alertar e dar suporte à sociedade para que se corrijam as distorções e manipulações que são praticadas na gestão pública por interesses contrários ao objetivo primordial da educação pública : ser universal, gratuita e de qualidade.

Somos da contracultura !!!

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