Primeiramente
queremos frisar bem (a fim de que não pairem dúvidas a respeito) que sempre fomos;
somos e seremos pela defesa do docente. E justamente para continuar honrando
esse compromisso é que expressaremos nossa opinião sobre a greve deflagrada a
partir de hoje, 12/MAI/2014.
Um
breve retrospecto é necessário para a perfeita e completa compreensão da nossa decisão
de não aderir ao movimento.
Ainda
no 1º semestre do ano de 2013, abriu-se a campanha salarial que culminou nas fatídicas
sessões da ALERJ, quando o professorado foi obrigado a “engolir” 8% de aumento
que na verdade seriam 7%; mas que graças “benevolência” do presidente da ALERJ (vocês
sabem quem) os 7% foram acrescidos de mais 1%.
Na
época, os deputados da base governista simplesmente esvaziavam (saiam de
fininho) a sessão impedido a votação de índices maiores (existiam propostas de
12 a 25%) e sabem por quê ? Por que as galerias estavam tomadas por
professores. Ou seja, existia pressão.
No entanto, a desarticulação do professorado (desarticulado porque era mal liderado)
permitiu que a ALERJ votasse e aprovasse, de supetão, o índice que o governo
queria, os 8%.
Depois
dessa “bola entre as pernas” os professores “dormiram no ponto” mais uma vez quando
em junho daquele ano ocorreram as manifestações organizadas a partir das redes
sociais. Você perguntará: Mas qual é a relação possível entre elas ? Havia como prever as passeatas
de junho?
A
relação é a má condução das ações e a falta delas no que tange às passeatas.
Explicando,
no mês anterior haviamos dado um alerta durante assembleia realizada no clube Hebraica
de que a liderança deveria estar atenta aos movimentos nas redes sociais, a fim
de capitalizar e capitanear iniciativas que manifestassem a insatisfação da
classe com a política educacional do governo estadual (principalmente porque
muitos professores novatos na rede eram mais atuantes nos fóruns das redes
sociais e, portanto um excelente filão para ser mobilizado em ações através
delas).
Contudo nossa
advertência/alerta foi tomada como sugestão e mesmo como sugestão foi
desdenhada, o que demonstrou pouquíssima visão da liderança da classe (sem
contar que naquela época as CNTP’s* para uma greve estavam mais do que postas;
mas já se ouvia a ladainha da famosa “correlação de forças”).
Ainda,
para os que possuem boa memória, a fim de solapar a intenção de greve no 1º
semestre, o governo liberou - na data da assembleia realizada no clube Hebraica
- o tal bônus cultura de R$500,00.
Pois
bem, nada de greve no 1º semestre de 2013.
No 2º semestre entramos em greve, mas muito mais “seduzidos” pela entrada dos
colegas da rede municipal (assembleias com 5 a 6 mil presentes, atos e
passeatas com 4 a 5 mil docentes), que há anos não entravam em greve; do que
realmente por nossas próprias demandas e crença na nossa capacidade de
mantermos um movimento com nossas próprias pernas (lembram-se do dado novo ?).
Mas
é importante não esquecer que nossos colegas do município assim que receberam uma
sinalização de compromisso do governo municipal em atender as suas demandas
votaram pela suspensão da greve; e só retornaram quando – novamente – perceberam
que o governo municipal não adotaria os compromissos (Enquanto isso, o
professorado estadual permaneceu e só saiu após o acordo de Brasília).
Cabe
ressaltar que não estou pregando a insensibilidade ou a falta de solidariedade
dos colegas da rede municipal. Sequer pensei nisso.
Mas,
antes quero reafirmar que os professores da rede estadual devem andar com suas
próprias pernas e não devem atrelar suas decisões (que devem ser baseadas nas sabidas
carências da rede estadual) a conveniências e estratagemas. Ou o que é pior ainda,
fiar-se em cenários movediços de um ano eleitoral quando a politicagem é revelada em sua plenitude.
Retomando, naquela ocasião os colegas da rede municipal agiram legitimamente em defesa de seus
interesses e, na previsão de que esses interesses seriam – teoricamente –
satisfeitos, eles então saíram do movimento grevista. Da mesma forma, visando os seus interesses, retornaram ao movimento assim que perceberam o logro da parte do governo
municipal.
Portanto,
andaram com suas próprias pernas e atrelaram suas decisões às suas carências e
não a outra coisa que não fosse de interesse próprio dos professores da rede
municipal.
Continuando a exposição dos fatos em retrospecto,
a certa altura do período de greve já havia uma percepção nossa de que algo estava
muito “fora da ordem” e começamos a pensar em uma saída honrosa para o
professorado. Uma saída que preservasse o principal agente transformador e
defensor da educação pública estadual, o docente dessa rede.
Quando
começamos a pensar isso ?
Quando
nossas assembleias começaram a ser realizadas longe do centro da cidade (inúmeras vezes
propusemos assembleias a céu aberto [ali mesmo no centro] para na sequência
entramos direto em passeata pelas ruas); quando as assembleias passaram a ser iniciadas tardiamente (previstas para as 14h; mas começando às 15h45 quase 16h e terminando em horários que
inviabilizavam a ida às ruas) e quando passamos a perceber que as idas à ALERJ
(não esqueçamos que havia um acampamento de professores da rede estadual instalado
nas lá nas escadarias [que caiu no esquecimento]) passaram a ser preteridas em
relação às idas ao Palácio Laranjeiras e à Rua Da Ajuda (idas que se mostraram
infrutíferas; pois o governador esbravejava aos quatro ventos que não sentaria
à mesa para negociar – daí vem a busca quase frenética por intercessores e
mediadores que foi empreendida pela direção do movimento [situação que ficou notória
com a entrada em cena do ministro Fux]). Ir ao Santo Cristo então, sequer era cogitado.
Ato
contínuo ao pensamento de dar término ao movimento foi a votação pelo fim da
greve sob a perspectiva de preservar o principal patrimônio dessa luta, o professor.
Na
época publicamos no blog que o acordo não era o ideal tampouco o esperado; mas dentro da nossa
perspectiva ele abria novas frentes e sinalizava com soluções para impasses. Ainda,
é muito importante registrar que o acordo só não foi melhor por conta da falta
de habilidade, ou interesse, em melhor negociar de quem estava lá em Brasília.
Portanto,
optamos pelo pragmatismo diante daquilo que era engendrado para ser lançado
sobre as cabeças dos docentes da rede.
Dessa forma, com nossos pés firmemente
plantados no chão da realidade dos fatos e com as cabeças fixas sobre os ombros
pensando no futuro a partir daquele presente (e não com os pés fincados nas
nuvens do ideal e a cabeça entorpecida pelo utopismo partidarista planfetário) votamos pelo fim da greve.
Acreditamos
nos sonhos, valorizamos o desejo e a vontade; pois nosso metiê se utiliza de
tais instâncias e mesmo as incentiva nos nossos alunos. Mas
daí a agir como incautos ou certos afiliados às diretrizes partidárias vai uma
distância enorme.
Evitamos
e repudiamos com veemência o discurso menor das picuinhas partidárias, que
atendem a interesses outros e não aos legítimos interesses dos professores da rede pública estadual. Por
isso buscamos e queremos autonomia e autenticidade para descer o porrete; mas
também para apontar a ação bem direcionada quando (e se) ocorrerem.
Nosso
compromisso é com o professorado e com a educação pública de qualidade na rede, tudo que foge disso é gordura; é luz de holofote para mariposas e óleo
para as engrenagens que giram ora para a direita e ora para a esquerda,
conforme o ocupante do Palácio Laranjeiras.
Boneco, que tal uma greve hein ? |
Finalizando,
fazemos votos de sucesso na empreitada aos que pensam e agem diferentemente de nós (e vivas
sejam dadas a democracia por isso). Mas temos um compromisso com nossas consciências e por mais que nossa decisão se
mostre equivocada em um futuro (será?),
ainda assim não poderão nos acusar de indiferentes, dúbios ou partidarizados.
* Condições Normais de Temperatura e Pressão (ou seja, tudo para dar certo).
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