domingo, 13 de outubro de 2013

OLHARES; REVOLUÇÃO; LEGITIMIDADE e SOCIEDADE

Olá pessoal !

Analisando os dados que são apresentados pela educação estadual, a nível nacional, saímos da penúltima posição no ranking (26ª) e chegamos a 15ª posição em curto espaço de tempo, o que é um feito “monstruoso” visto o histórico recente da rede.

Teoricamente, todos os professores da rede deveriam estar de parabéns pelo fabuloso – e até mesmo – extraordinário feito na área da educação, não é mesmo ? Assim sendo, todos os professores da rede deveriam ter sido agraciados com a famigerada gratificação de desempenho, visto que a rede – pelos dados apresentados – obteve resultado digno de louvor, não acham ?

No entanto, a realidade é bem outra. Poucas unidades conseguiram atingir as metas estabelecidas e outras tantas só foram beneficiadas com a tal gratificação por desempenho porque houve uma mudança da regra (diga-se de passagem) no meio do jogo. Porque se assim não fosse, iria ficar estranho/bizarro/esquisito que quase 80% da rede não tenha conseguido “bater meta” e mesmo assim a rede tenha conseguido tamanho resultado no IDEB.

Agora, se esse fabuloso “salto quântico” dado pela educação estadual pode ser traduzido em melhora na qualidade de ensino oferecido e aprendizado adquirido é outra questão.

O que os números mostram (sim, eles que são organizados e lidos conforme a ótica) é que treinamos melhor nossos alunos do que os outros estados da federação que ocupam – como nós ocupávamos há pouco tempo atrás –  as piores posições do ranking nacional.

Porque se não for isso, o caso é bem pior e entra na esfera criminal (fraude).

Mas, escola não é lugar para treinar alunos. A escola é lugar que auxilia na educação e formação de pessoas.

Para um simples exercício de interpretação sobre dados que são fornecidos e como tais dados podem ser interpretados, eis dois casos tão verídicos (ou seria incríveis?) quanto o da rede pública estadual:

Recentemente, a Petrobrás construiu, aqui no Brasil, uma plataforma para extração de petróleo e gás e, em seguida, “exportou” essa mesma plataforma para uma de suas subsidiárias no exterior ao custo de uns US$ 1,9 bilhões.

No entanto, a plataforma sequer saiu do Brasil; pois a Petrobrás vai utilizá-la na bacia de Campos.  Já que a plataforma pertence a uma de suas subsidiárias, ela (a Petrobrás) tem todo o direito de utilizar o equipamento (plataforma). Mas mesmo assim, o valor da plataforma foi contabilizado como exportação brasileira e foi adicionado ao saldo positivo da balança comercial do país (resultando em superávit).

Outro caso. Em 1995, o governo federal criou um programa de auxílio ao sistema bancário nacional (Proer) que consumiu 3% do PIB nacional (cerca de R$37bilhões) tendo, como um dos argumentos, a ideia que assim seria impedido a “evaporação” do sistema bancário e por isso era necessário investir naquele momento no sistema para não ter prejuízo no futuro.

Na verdade, houve foi uma espécie de “saneamento” do sistema transformando bancos deficitários e endividados em bancos atraentes para serem adquiridos por grandes bancos estrangeiros e bancos superavitários nacionais.

Enfim, números foram expostos e lidos conforme o leitor ou proclamados conforme o orador. O comum entre os dois casos expostos é que a “matéria prima” que envolveu os casos é inanimada; de uso; bens de serviço; são quantias; são números e não são pessoas. Pessoas, por conta da diversidade, muitas vezes demandam tempos diferenciados para atingirem patamares equivalentes entre si.

Portanto, é – no mínimo – questionável tamanho avanço sob o prisma do qualitativo em tão exíguo espaço de tempo – visto que a “matéria prima” da educação são pessoas -, quando a realidade aponta, justamente, para a opção pelo quantitativo; pois a realidade das salas de aula apresenta turmas cada vez maiores (superlotação); cada vez menor autonomia tem o professor (série de portarias que engessam a verdadeira atuação pedagógica); cada vez menor apoio pedagógico ao professor e educacional ao aluno (burocratização das OP’s e OE’s); cada vez maior pressão e busca por metas; insegurança do professor entre outras coisas.

Não tenhamos dúvida, estamos presenciando um processo revolucionário na educação estadual.  Aliás, esse mote sempre foi defendido pelos inúmeros educadores e pesquisadores acadêmicos; no entanto, certamente os meios e os fins são muito diferentes daqueles que defendem e entendem a escola pública de qualidade.

Por isso, uma revolução que é posta em prática sem a participação de seus maiores artífices e dos seus principais interessados não tem legitimidade.

Os professores da rede estadual não participam voluntariamente desse processo, eles estão tendo a sua participação e o seu silêncio comprado pelo medo das sanções administrativas e financeiras.

Os alunos (e seus responsáveis) estão sendo “seduzidos” pelas facilidades e falta de compromisso com o aprender/saber que o modelo atual oferece. Com isso a escola passa a ser conivente com o fracasso desses alunos na vida; pois deixa de exercer um papel fundamental na preparação desses alunos para viver em sociedade, uma sociedade que – diferentemente da atual escola – “não passa a mão sobre a cabeça” daqueles que não tem preparo para atuar nela.

Uma sociedade que traz o consumo como proposta e o ter como valor de convívio social e que é implacável com aqueles que não buscaram nos tempos de escola preparação para a vida.

Os resultados disso, sabemos bem, são empregos de baixíssima escolarização; subempregos; desemprego; criminalidade; miséria e uma vida marginal baseada na ausência total de cidadania.

Finalizando, se não há professores voluntários e nem alunos (e pais) conscientizados não há legitimidade no processo. 

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